quinta-feira, 14 de julho de 2011

A fórmula para a perfeição? Treinar, treinar e treinar...

Em tempos tive um aluno, vindo de outro Dojo com a graduação de cinto branco, que foi falar comigo dizendo que não se dava bem no Dojo onde treinava e que queria treinar comigo. Aceitei-o como aluno e começou assim a sua prática no meu Dojo.
Ao princípio treinava com muita assiduidade e foi progredindo nas graduações. Tinha até bastante facilidade de aprender e uma técnica bastante boa. Com o passar dos anos começa a ser menos assíduo. Por razões diversas - escola, namoro e outras - começou a ser menos participativo. A técnica desceu e começou a ser ultrapassado por outros, que treinavam afincada e assiduamente. 
Com treinava pouco, a sua forma física também sofreu abalo e com frequência, não consegui acompanhar aqueles mais "rodados" no treino. Tinha uma particularidade interessante - sempre que sabia que iam haver exames, aparecia uma semana antes. Nessa semana treinava todos os dias e tentava dar "o litro" mas não conseguia - as falhas técnicas apareciam e a resistência aos esforço era pouca.  
Os exames passavam e ele não era proposto, obviamente, porque aos meus olhos ele não estava preparado para exame... e desaparecia novamente. Este ciclo teve algumas frequências até que um dia me confrontou com a questão - Então afinal quando é que vou a exame?... Eu respondi-lhe que iria a exame quando eu entendesse que estava preparado para exame - nem antes nem depois - mas que para isso tinha de se dedicar ao treino não se encostando às graduações adquiridas.
Não conseguindo fazer exames no meu Dojo, desistiu e inscreveu-se num Dojo vizinho, não sem antes mo comunicar dando como razão para a mudança, a maior proximidade com o outro Dojo. Desejei-lhe as maiores felicidades e despedi-me dele. 
Tanto quanto soube a sua carreira no novo Dojo foi curta... e hoje já não treina. Ficou pelo caminho. Se tenho pena de o ter perdido? Claro que sim! Não gosto que os meus alunos se vão embora, no entanto imponho condições para ficarem - confiarem na minha avaliação do seu treino. Sou eu que os ensino e sou eu que tenho o dever de os informar que não estão em condições de irem a exame. Tenho o igual dever de os ajudar a ultrapassar as dificuldades que têm para se poderem candidatar à ascensão de graduação. É isso que tenho feito. Sempre que tenho alunos que vão fazer exame, preparo-os com algum tempo de antecedência   para que consigam atingir os seus objectivos sem colocarem em causa a reputação do Dojo e a minha. 
As graduações valem o que valem. Para uns é o objectivo, para outros uma consequência. É para estes últimos que eu trabalho para os ajudar. 
Nos últimos exames de graduação houve um dos meus alunos que propus a exames para 3º Kyu que me confidenciou não se sentir preparado para  fazer o exame e que considerava seriamente a hipótese de não ir. Achei louvável a sua atitude e disse-lhe que essa seria sempre uma decisão sua mas que, a meu ver, estava preparado tecnicamente para o fazer. Firmei com ele um trato - eu comprometia-me a treiná-lo para o exame tirando dúvidas e avaliando mais de perto o seu desempenho e ele, no final, se ainda pensasse não estar em condições e não quisesse fazer o exame, não o faria.
Este compromisso que assumimos foi levado com rigor... e no final desse tempo questionei-o se ainda queria desistir do exame - ele disse-me que se sentia mais confiante e que iria submeter-se ao exame. Fez um excelente exame e passou sem alguma reserva. Foi muito gratificante para ele mas também para mim.
As graduações valem o que valem - para uns é a confirmação daquilo que adquiriram ao longo dos anos de treino, para outros é uma ostentação. Estes últimos nunca vão ser bons karatekas. Vão ser "caçadores de graduações", e vão, algum dia, deixar de treinar porque chegam à conclusão (os que conseguem) que a satisfação tirada de uma graduação imerecida não é gratificante. 
Acredito que o nosso papel como instrutores é minimizar a importância das graduações e apontá-las como uma consequência do treino assíduo e empenhado porque só assim eles adquirem a sua importância real - a sua conquista com mérito!

3 comentários:

  1. Nem mais! Desiludam-se aqueles que pensam que é a cor do cinto que dá a técnica ou trás o prestígio.
    É, sim, o suor, a força de vontade e a abnegação, que nos levam a deixar o conforto do sofá para podermos fazer alguma coisa por nós. O que não fizeres por ti, mais ninguém o faz...

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  2. Como sempre, uma boa análise num bom texto!

    Onde é que eu também já vi disto?

    Há pessoas que em vez de utilizarem o cinto à cintura deveriam colocá-lo à volta da cabeça!

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  3. Concordo a 100%! Eu, prefiro estar muitos anos a fio a treinar até merecer o cinto e nesse tempo polir a minha técnica do que estar a preocupar-me quando é a minha próxima graduação. Quando for, o Sensei diz-me e confio nele porque ele, melhor que eu, sabe se tenho técnica para subir mais um degrau! Se não for, é porque não estou preparado e tenho que me esforçar mais...

    É a lei da vida. As coisas sabem muito melhor quando são merecidas.


    Cumprimentos,
    Rui Valadas

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