segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A mediocridade que tolda a visão...

De vez em quando faço um "passeio" pelo Youtube na pesquisa de outras escolas de karate e de outras visões da nossa arte. É assombroso o número e a diversidade de vídeos e isto sem saír da pesquisa Goju-Ryu. Assim que entramos na pesquisa por karate, como é evidente, a coisa transborda.
Num desse passeios encontrei um 5º Dan que executava Seiyunchin. À parte do kiai que ele executava no empi-uchi em vez de o executar nos age-tsukis (segundo a nossa escola), a kata estava muito bem executada, bom kime, boa forma (algumas diferenças da "nossa" Seiyunchin, mas nada de relevo).
Dei-me ao trabalho de ler alguns comentários feitos ao vídeo e fiquei abismado com o "fanatismo" de alguns supostos mestres na análise ao mesmo. Desde incompetente a aldrabão, tudo chamaram ao senhor apenas porque a kata demonstrada não era igual à sua.
A maior parte destes comentários depreciativos veio dos Estados Unidos o que não me surpreende, tendo em conta o "achincalhamento" que algumas ditas escolas americanas fazem ao Karate.
Dizia um "artista" num dos comentários que "o autor devia ter vergonha de chamar aquilo Goju-Ryu porque em nada se assemelhava às katas originais (será que o sujeito estava lá quando as katas foram ensinadas pelo Sensei Chojun miyagi??). Outro dizia que o nível técnico da execução era semelhante ao de um iniciado e que não devia ter sido colocado na net um vídeo com tão "fraca qualidade", enfim... um chorrilho de ofensas e ataques que me deixou boquiaberto. Era para visionar mais alguns vídeos mas não consegui deixar de ler todos os comentários. Pelo meio apareciam alguns comentários que referiam a kata como muito boa tecnicamente, com diferenças de algumas escolas mas diferenças que, ao invés de adulterarem a kata, lhe davam um significado diferente em alguns pontos, mas válidos.
Um dos comentários era de um senhor que dizia der 6º Dan de Goju-Ryu e que postou o comentário seguinte: "tomara eu que os meus alunos todos executassem Seiyunchin assim."
Consegue-se imaginar as mentalidades obtusas daqueles que se deram a "ares" de grandes mestres criticando sem ver a sério, sem observar, detendo-se em pormenores que, por diferirem da sua execução, não é garantia de estarem errados.
Alguns dos comentadores limitaram-se a seguir a linha de estupidez dos primeiros por comodismo, associando-se de imediato à crítica destrutiva, talvez para desviar as atenções da sua própria mediocridade.
Durante o Summer Gasshuku da GKI todos vimos diferentes abordagens do Goju-Ryu. Provavelmente não nos identificamos com algumas delas, mas estão erradas por isso? Em conversa com o Sensei Arnold de Beer confidenciava-me ele que, nos exames de graduação não iriam ser rigorosos com algumas diferenças que esperavam ver desde que fossem válidas e desde que não adulterassem a finalidade expressa na kata. Vimos execuções de Katas e Bunkai completamente diferentes umas das outras. Algumas bem executadas e outras não - mas isso sim, é que é avaliado.
A quantidade de "comentadores de mentalidade limitada" que existe é assombrosa. Felizmente que, pelo meio, aparecem aqueles que realmente sabem observar e assimilar as diferenças como uma coisa saudável e que dá ao karate a sua dinâmica, tornando-o numa coisa viva.

3 comentários:

  1. É sempre bom ver o ponto de vista antes de criticar quem quer que seja. Tal como o sensei refere, sabe muito bem a essa "boa" gente criticar logo porque é para manter o estatuto dos experts que "são". Mas uma pessoa tem é que ter um pouco de humildade e procurar sempre saber como se faz e em que pretexto se executa essa técnica. Isso é ser um bom karateka e acima de tudo, uma boa pessoa.
    Graças aos diversos pontos de vista de toda a gente da comunidade do karaté é que a mesma evolui porque senão fosse assim, nem consideraríamos a hipotese de praticar karaté...


    Cumprimentos.

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  2. Caro Zé Ramalho:

    Desta vez vou discordar (permite-me!).

    Não é a mediocridade que tolda a visão - a visão (curta, ou como eu sempre disse, com duas palas iguais às dos cavalos) é que cria a mediocridade!

    E quanto àqueles que "sabem observar e assimilar as diferenças" são felizmente os que sabem VER (CONHECEM) e não excluem a DIVERSIDADE. Por isso mesmo, é na diferença que devemos colaborar - na igualdade devemos competir para progredir.

    Como diz o Rui, é assim que o Karaté - e nós também - evolui (evoluímos)!

    Grande abraço!

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  3. Em acrescento ao meu comentário anterior, gostaria de deixar expresso que a mediocridade acaba por criar a inutilidade.

    Um dos nossos grandes problemas está em não sabermos pensar grande para sermos grandes - repare-se no actual campeonato mundial de atletismo: "cheguei à final, foi bom!"; "fiquei entre os 8 primeiros, isso é a minha medalha!" e outras declarações do mesmo género...

    Como disse alguém (cito de memória), todos os sábios possuem os seus mestres. Os tolos também possuem os seus!

    Um abração!

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