segunda-feira, 23 de abril de 2012

Percepção...

Encontro-me, neste momento, a desenvolver o meu estudo pessoal da kata. Sendo, a meu ver, a essência e a sublimação da técnica, a kata contém todos os ingredientes para um trabalho diversificado, podendo ser inserido no trabalho de kumite básico e avançado.
Trabalhando em conjunto com o meu amigo João Ramalho temos tido a percepção "multi-aplicável" do trabalho de kata. Desde a percepção do movimento à percepção das suas múltiplas aplicações e interpretações, trabalhar kata é essencial para uma boa compreensão da técnica.
Com o avançar dos anos, tenho vindo a trabalhar a precisão do movimento e a desenvolver "aqueles pormenores" que fazem a diferença entre a beleza estética do movimento e a sua real eficácia - bom posicionamento de pernas, equilíbrio estável e transferência da energia no momento do impacto. 
Executar Kata é, acima de tudo, equiparmo-nos com um grande arsenal técnico e mostrar aos outros e a nós próprios, o que podemos fazer com ele.
Em tempos, um dos meus alunos questionou-me, algo baralhado, sobre a aplicação "base" de uma determinada Kata visto ter visto e até praticado comigo, muitas variantes. Respondi-lhe que é tempo de nos desvincularmos da ideia de apenas uma ou duas aplicações (base ou não base), e dedicarmos algum do nosso tempo a tentar perceber a finalidade de todas e, acima de tudo, a aplicabilidade delas em situações de combate com pessoas de várias estaturas.
Se, num exame, um aluno me "presentear" com uma bunkai diferente daquelas que lhe ensinei, porque é que não hei-de aceitá-la desde que seja credível e inequivocamente eficaz? O aluno ao fazer isto está a mostrar ao instrutor que adquiriu uma boa capacidade de desenvolvimento pessoal das técnicas e que reconheceu na kata a qualidade de ponto de partida para um trabalho infinito de possibilidades.
Gosto de treinar Kata. Gosto de descobrir na Kata  novos conceitos. Trabalhei durante anos Kata em "formato estático", ou seja - preto ou branco! Agora... estou a descobrir as várias tonalidades de cinzento que estão escondidas e, acreditem, dá um enorme gozo.

Até breve

6 comentários:

  1. aplicações em cinzento ... vejo aí um dedinho do David...

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  2. a Ura, não era a tipa das comunicações do Star Trek?

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  3. Caro Peixoto, desta vez estás enganado, porque a senhora da série Star Trek chamava-se Uhura.

    Mas já agora, posso dizer-te que o "uro" é o touro selvagem... cuidado com ele!!!

    Um abraço!

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  4. Caro amigo Zé Ramalho:

    Sempre defendi que o karaté é uma "coisa" fluida, e que nós "jogamos" com um objeto - o ser que está à nossa frente, que sente, pensa, age e reage (lembras-te do estágio em Corroios?). Portanto há o "eu" e o "outro"... inseridos num certo contexto. Por isso é que o Sensei Onaga diz que quem tem boa Kata (no seu sentido total, não só a forma) tem bom Kumite.

    A Bunkai Kata estática é pré-programada... Penso que estás a treinar com o João aquilo a que se chama Taira Bunkai. É um bom complemento, mas penso que não deixa de ser programada.

    Assunto para um estágio da Kaizen - aplicar Bunkai em Jyu Kumite, sem pré-programações...

    Aí sim, sendo a percepção a ponte-de-relação entre o indivíduo e o seu meio exterior, penso que atingiríamos o pico do assunto.

    Que tal pensarmos nisso? Uma proposta...

    Um abração!

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    1. Amigo Armando. Aquilo que estou a trabalhar com o João é um tipo de bunkai que é "adaptável" ao contexto de combate onde a distância regula a ação. Apanhamos alguns dos conceitos do Taira mas inserimos a nossa percepção do movimento e a sua aplicação frente a muitas variáveis. É um trabalho giro e dinâmico. Não sendo o único caminho, é um excelente complemento a anexar ao conhecimento de kata adquirido. Obrigado pelo comentário. Um abração.

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