É mesmo possível ensinar Kata a
crianças de modo a que ela seja executada correctamente?
Sem querer parecer tendencioso no
que respeita ao "conflito" velha escola vs. nova escola, acredito que
sim.
As novas
tendências sobre o ensino do karate acreditam que é prematuro ensinar kata às
crianças de tenra idade. Não é sequer, produtivo, indicam elas. Fruto da
mistura Educação Física/ Arte Marcial, estes conceitos inovadores têm a
suportá-los, estudos científicos na área, que respeito e aceito, mas com
algumas condições - O Karate não é (só) educação física. É uma disciplina
complexa, com códigos próprios, que se rege por regras incontornáveis - A sua
origem, a sua etiqueta, o seu sistema de graduações, entre outros.
Não quero
que entendam com este comentário, que me oponho à aplicação dos novos conceitos
de treino onde se inclui o trabalho de coordenação motora e velocidade,
associados a tarefas de carácter lúdico. Eu próprio as utilizo porque as acho
fundamentais. Ao que eu me oponho é à exclusividade deste tipo de treino. Não
consigo entender porque é tão difícil ou contraproducente, ensinar kata (de
forma correcta) às crianças - Kata é coordenação, Kata é disciplina, Kata é
equilíbrio, Kata é trabalho mental - não são estes elementos essenciais à
formação dos jovens? O Karate não assenta como base no trabalho de Kata? Não é
karate o que fazemos? Então qual é a dificuldade? Dá trabalho? Claro que sim.
Exige muito tempo de correcção? Claro que sim.
Sem querer
estabelecer paralelismos com o Japão porque tal não é possível por razões de
ordem cultural, o vídeo que apresento aqui é o exemplo de Kata executado por
crianças de tenra idade (quem me dera que alguns adultos que treinam comigo a
executassem assim!).
A
coordenação e a concentração exibidas por estes (muito) jovens praticantes é
assombrosa. Só no Japão? Talvez. Mas podemos aproximar-nos disto. Com muito trabalho, sim, mas é possível.
Existem
muitos karatekas licenciados em Educação Física, o que é bom. Alguns dos erros
graves, dos quais ainda existem hoje "vítimas", deixaram de se
cometer. Os conhecimentos sobre a fisiologia, motricidade e até, psicologia do
desporto vieram trazer ao treino de karate, mais valias que permitem hoje,
treinar-se mais correctamente produzindo muito bons resultados.
Contudo
não devemos esquecer que a vertente desportiva do karate é muito mais recente
que a sua componente "marcial" (embora não goste muito deste termo).
Os
Karatekas que nós veneramos hoje não fazem treinos segundo as "regras da
educação física" - fazem-no como o faziam quem lhes ensinou. E nós
seguimo-los fascinados mas depois, temos dificuldade em aceitar esse regime de
treino nos nossos Dojos. Há aqui uma enorme contradição.
O Sensei
Higaonna, O Sensei Taira, O Sensei Onaga, entre outros, certamente acreditam num
tipo de treino que assenta em bases ancestrais e com o qual atingiram o nível
que lhes conhecemos.
Quando
comecei a treinar, as aulas eram muito duras do ponto de vista físico. Não
raras vezes se chegava a casa cheio de nódoas negras e umas ou outra
escoriação - isso é impensável hoje em dia! - Não estou a afirmar que estava
100% correcto, mas que se obtinham resultados diferentes, é verdade. Muitos do
karatekas de "topo" surgiram dessa escola.
Karate
não é só educação física - tenhamos consciência disto! Karate é uma disciplina
completa e complexa, que envolve uma grande componente física. Aprendemos agora
que, a disciplina aliada a bons conhecimentos de educação física são a receita
para uma boa base de aprendizagem...
Olhando
para os jovens karatekas do vídeo podemos pensar: como se consegue um resultado
destes? Também não sei responder mas acredito numa coisa... com muito trabalho,
disciplina, tempo e paciência. Quantos de nós, com o tipo de vida que levamos,
consegue conciliar e reunir estas condições? Pois é... temos muitos alunos e
pouco tempo. É lixado!
Um bom
dia a todos!