terça-feira, 8 de maio de 2012

Kata infantil... é possível?



É mesmo possível ensinar Kata a crianças de modo a que ela seja executada correctamente? 
Sem querer parecer tendencioso no que respeita ao "conflito" velha escola vs. nova escola, acredito que sim. 
As novas tendências sobre o ensino do karate acreditam que é prematuro ensinar kata às crianças de tenra idade. Não é sequer, produtivo, indicam elas. Fruto da mistura Educação Física/ Arte Marcial, estes conceitos inovadores têm a suportá-los, estudos científicos na área, que respeito e aceito, mas com algumas condições - O Karate não é (só) educação física. É uma disciplina complexa, com códigos próprios, que se rege por regras incontornáveis - A sua origem, a sua etiqueta, o seu sistema de graduações, entre outros.
Não quero que entendam com este comentário, que me oponho à aplicação dos novos conceitos de treino onde se inclui o trabalho de coordenação motora e velocidade, associados a tarefas de carácter lúdico. Eu próprio as utilizo porque as acho fundamentais. Ao que eu me oponho é à exclusividade deste tipo de treino. Não consigo entender porque é tão difícil ou contraproducente, ensinar kata (de forma correcta) às crianças - Kata é coordenação, Kata é disciplina, Kata é equilíbrio, Kata é trabalho mental - não são estes elementos essenciais à formação dos jovens? O Karate não assenta como base no trabalho de Kata? Não é karate o que fazemos? Então qual é a dificuldade? Dá trabalho? Claro que sim. Exige muito tempo de correcção? Claro que sim.
Sem querer estabelecer paralelismos com o Japão porque tal não é possível por razões de ordem cultural, o vídeo que apresento aqui é o exemplo de Kata executado por crianças de tenra idade (quem me dera que alguns adultos que treinam comigo a executassem assim!).
A coordenação e a concentração exibidas por estes (muito) jovens praticantes é assombrosa. Só no Japão? Talvez. Mas podemos aproximar-nos disto. Com muito trabalho, sim, mas é possível.
Existem muitos karatekas licenciados em Educação Física, o que é bom. Alguns dos erros graves, dos quais ainda existem hoje "vítimas", deixaram de se cometer. Os conhecimentos sobre a fisiologia, motricidade e até, psicologia do desporto vieram trazer ao treino de karate, mais valias que permitem hoje, treinar-se mais correctamente produzindo muito bons resultados. 
Contudo não devemos esquecer que a vertente desportiva do karate é muito mais recente que a sua componente "marcial" (embora não goste muito deste termo).
Os Karatekas que nós veneramos hoje não fazem treinos segundo as "regras da educação física" - fazem-no como o faziam quem lhes ensinou. E nós seguimo-los fascinados mas depois, temos dificuldade em aceitar esse regime de treino nos nossos Dojos. Há aqui uma enorme contradição.
O Sensei Higaonna, O Sensei Taira, O Sensei Onaga, entre outros, certamente acreditam num tipo de treino que assenta em bases ancestrais e com o qual atingiram o nível que lhes conhecemos. 
Quando comecei a treinar, as aulas eram muito duras do ponto de vista físico. Não raras vezes se chegava a casa cheio de nódoas negras e umas ou outra escoriação - isso é impensável hoje em dia! - Não estou a afirmar que estava 100% correcto, mas que se obtinham resultados diferentes, é verdade. Muitos do karatekas de "topo" surgiram dessa escola. 
Karate não é só educação física - tenhamos consciência disto! Karate é uma disciplina completa e complexa, que envolve uma grande componente física. Aprendemos agora que, a disciplina aliada a bons conhecimentos de educação física são a receita para uma boa base de aprendizagem... 
Olhando para os jovens karatekas do vídeo podemos pensar: como se consegue um resultado destes? Também não sei responder mas acredito numa coisa... com muito trabalho, disciplina, tempo e paciência. Quantos de nós, com o tipo de vida que levamos, consegue conciliar e reunir estas condições? Pois é... temos muitos alunos e pouco tempo. É lixado!
Um bom dia a todos!

2 comentários:

  1. Podia dizer que concordo inteiramente e que os miúdos são excelentes, mas não me sai da cabeça que a radiação das bombas que caíram em Nagasaki e Hiroshima ainda continuam a criar Benjamins Button em barda, que depois se fazem passar por crianças para nos impressionar. Reparem que eles já são cintos negros...ora devem ter mais de 14 anos ...
    É lixado? pois é!
    abraços,

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  2. Caro amigo:

    A Pedagogia diz-nos que há vários caminhos para atingirmos os fins desejados. Por isso mesmo há metodologias diferentes... caberá a cada um adaptar as mesmas aos fins em vista. Cá por mim,nem 8 nem 80, mas não tenho dúvidas que Kata não se ensina ludicamente, embora o lúdico possa contribuir para a sua aprendizagem (em termos de coordenação motora - movimentos dissimétricos -, percepção espaço-temporal - ritmo, linhas de orientação -, etc.).

    Mas, por exemplo, também há aqueles que ensinam Kata servindo-a como um "enlatado", ou seja, quando se vê alguém com 13 ou 14 anos a fazer Sepai para apresentar em competição sem ter trabalhado as anteriores... ou sem conhecer a fundo o que está a fazer.

    Grande abraço!

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